A Cidade Submersa de Dwarka, Índia: Mitologia ou Realidade?
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5/1/20254 min read


Entre as águas do estado de Gujarat, na costa oeste da Índia, repousam ruínas que despertam o interesse de arqueólogos, historiadores e devotos há décadas. Trata-se da chamada cidade submersa de Dwarka, que muitos acreditam ser a lendária capital do deus hindu Krishna. A questão que intriga estudiosos e místicos é simples, mas profunda: Dwarka realmente existiu como cidade histórica, ou pertence apenas ao mundo da mitologia?
Neste artigo, vamos examinar a origem do mito, as evidências arqueológicas e o que a ciência sabe — ou ainda não sabe — sobre esse enigma indiano.
Dwarka nos textos antigos
A história de Dwarka aparece nos épicos hindus, especialmente no Mahabharata e no Bhagavata Purana. Segundo esses textos sagrados, após abandonar a cidade de Mathura, Krishna fundou uma nova capital para seu povo às margens do oceano: Dwarka, descrita como uma metrópole magnífica, com palácios de ouro, ruas amplas e tecnologia avançada para a época.
Dwarka era considerada invencível, protegida por divindades e construída com planejamento celestial. No entanto, após a morte de Krishna, os textos dizem que a cidade foi tragada pelo mar — um castigo divino ou um fim natural, dependendo da interpretação.
Durante séculos, essa história foi tratada como mitologia religiosa, sem respaldo histórico ou científico. Mas isso começou a mudar no século XX.
As buscas subaquáticas
Em 1983, a Marinha Indiana e o Instituto Nacional de Oceanografia começaram a investigar a costa da moderna cidade de Dwarka, em Gujarat. O que encontraram surpreendeu a comunidade arqueológica: estruturas retangulares, muros de pedra e blocos esculpidos, a cerca de 5 a 10 metros de profundidade no Mar Arábico.
Essas formações pareciam ter alinhamento arquitetônico e não se assemelhavam a formações naturais. Escavações subsequentes revelaram ânforas, âncoras de pedra e objetos cerâmicos — indícios de ocupação humana antiga.
Em 2001, uma nova descoberta ganhou destaque internacional. Usando sonar e varredura submarina, pesquisadores do Instituto Nacional de Tecnologia Oceânica anunciaram a existência de ruínas submersas ao largo da costa de Gujarat, com alinhamentos geométricos que pareciam indicar uma cidade planejada, possivelmente com mais de 9.000 anos.
Essa afirmação levantou polêmica, tanto por sua importância quanto pela falta de consenso entre especialistas.
O debate entre história e mito
A existência de ruínas submersas é um fato. A interpretação delas, no entanto, ainda divide a comunidade científica.
Argumentos a favor da historicidade de Dwarka:
Textos antigos coincidem com as características da região: Os épicos hindus descrevem o local com detalhes que batem com a geografia de Gujarat.
Artefatos datados entre 1500 a.C. e 3000 a.C. foram encontrados em escavações terrestres e subaquáticas.
A ideia de que a cidade foi submersa após um evento catastrófico tem paralelo com fenômenos naturais (como o aumento do nível do mar).
As estruturas submersas mostram traços de urbanização, como retângulos, muros e plataformas.
Argumentos céticos:
Muitas das estruturas podem ser formações naturais mal interpretadas.
A datação exata dos achados subaquáticos é difícil, já que muitos artefatos podem ter sido transportados por correntes marinhas.
Alguns estudiosos apontam que o entusiasmo nacionalista por ligar a mitologia védica a fatos históricos pode distorcer interpretações arqueológicas.
A alegação de que a cidade teria mais de 9.000 anos não se alinha com o que se sabe sobre civilizações urbanas nessa região.
Dwarka e a arqueologia terrestre
Paralelamente às investigações subaquáticas, arqueólogos têm escavado a área da moderna cidade de Dwarka, que se acredita estar construída sobre várias camadas de assentamentos antigos.
Pesquisas revelaram estruturas muradas, templos e sistemas de drenagem, com evidências de urbanização que remontam ao segundo milênio antes de Cristo. Isso coloca a cidade dentro do mesmo período das civilizações do Vale do Indo, como Harappa e Mohenjo-Daro.
Essas descobertas fortalecem a hipótese de que havia, de fato, uma cidade importante chamada Dwarka na Antiguidade — ainda que não seja necessariamente a cidade mítica descrita nos textos religiosos.
Um símbolo cultural e espiritual
Independentemente das conclusões científicas, Dwarka ocupa um lugar central na tradição hindu. Milhares de peregrinos visitam o templo de Dwarkadhish, dedicado a Krishna, todos os anos.
Para os devotos, Dwarka não precisa ser provada pela arqueologia — sua existência é espiritual, atemporal e sagrada. A cidade submersa é vista como parte do ciclo cósmico da criação e destruição, e sua submersão, como um símbolo do fim de uma era (o fim do Dvapara Yuga).
O impacto na arqueologia indiana
O caso de Dwarka colocou a Índia no centro de debates arqueológicos mais amplos, como:
O papel das tradições orais e religiosas como fonte histórica.
A relação entre arqueologia, identidade nacional e política.
A necessidade de investir em pesquisas marinhas e tecnologias não invasivas para estudar ruínas submersas.
O governo indiano tem apoiado as pesquisas, com o objetivo de valorizar o patrimônio cultural e, possivelmente, legitimar antigas narrativas como história real.
E se for verdade?
Se futuras evidências confirmarem que as ruínas submersas de Dwarka são de uma cidade urbanizada do segundo ou terceiro milênio antes de Cristo, isso redefiniria a cronologia das civilizações antigas da Índia. Mostraria que o subcontinente indiano abrigou centros urbanos desenvolvidos muito antes do que se pensava.
E se, em um cenário ainda mais ousado, as ruínas realmente forem vestígios de uma cidade perdida há 9 mil anos, isso mudaria radicalmente o que sabemos sobre a história humana — desafiando as datas aceitas para o início das civilizações complexas.
Conclusão: mito e realidade se encontram?
A cidade submersa de Dwarka está no ponto exato onde arqueologia, fé e mistério se cruzam. Há ruínas reais sob o mar. Há textos antigos que falam de uma cidade perdida. E há um povo que nunca deixou de acreditar nela.
Se Dwarka é mitologia ou realidade ainda está em debate. Mas a busca por ela já trouxe à tona descobertas valiosas, reacendeu o interesse pela arqueologia subaquática e levantou perguntas importantes sobre como tratamos o passado.
Talvez a verdade, como acontece com tantos mistérios antigos, esteja meio submersa: parte história, parte lenda — e completamente fascinante.